Morar em condomínio exige empatia e senso de comunidade. Não há como fugir desse entendimento quando se vive lado a lado de outras tantas famílias, cada uma com características e desejos próprios. As brigas em condomínios, dizem os especialistas, surgem justamente quando cada morador resolve olhar apenas para o seu “próprio umbigo”.

Mas, afinal, quais são os principais motivos de brigas em condomínios residenciais e qual o papel do síndico nesses casos? José Roberto Graiche Júnior, presidente da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo) enumera cinco "Cs" como os principais geradores de desentendimentos. Confira:

Brigas em condomínios: principais razões

Cano: questões relacionadas à hidráulica geram muitas brigas em condomínios. Primeiro, porque é muito comum que o morador que está afetando a outra unidade não tome providências para resolver o caso ou não queira pagar pelo conserto; segundo, porque há uma confusão em relação à responsabilização do problema e dificuldade de entendimento sobre qual é a tubulação do prédio e qual é a tubulação de responsabilidade do morador.

Cachorro: aqui entram desde discussões sobre tamanho e raça do cachorro (muito grande, bravo, late demais) até o respeito às áreas onde a circulação dos pets está liberada.

Criança: há quem se incomode das brincadeiras e do barulho que as crianças fazem nas áreas comuns; também são frequentes as brigas em condomínios relativos aos barulhos realizados em cada unidade.

Carro: nesta seara estão inclusas questões relacionadas à velocidade permitida, pleito pela troca de vagas entre unidades e uso indevido do espaço para armazenamento de outros objetos.

Calote: a inadimplência também gera muitas brigas em condomínios, já que as demais unidades precisam arcar com a parte faltante para que o condomínio pague suas contas em dia. Todos os olhos se voltam para as unidades inadimplentes, assim como os mais variados tipos de julgamento – está devendo mas mantém os funcionários e um carrão com motorista na garagem?

Cigarro e exposição indevida

Especialistas do mercado incluem outros dois C´s para completar a lista. O cigarro é um deles: moradores que fumam em lugares onde não é permitido, como elevadores ou hall social, e a sujeira deixada em áreas comuns. O outro é o computador, a partir do entendimento do mau uso das redes sociais, WhatsApp ou plataformas eletrônicas de uso coletivo. “Há muita gente que não respeita a etiqueta e os protocolos, levando assuntos equivocados, promovendo exposição indevida de alguns moradores e até ofensas.

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Papel do síndico

Graiche Júnior destaca a importância da intervenção e mediação do síndico no tempo certo para evitar que as brigas em condomínios ganhem maiores proporções. “A medição é função do síndico, responsável por zelar pela segurança e sossego dos condôminos. Ele precisa fazer valer e aplicar a convenção e o regulamento.”

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O presidente da Aabic explica que tudo precisa ser reportado ao síndico, e que o bom gestor consegue resolver esses conflitos com bom senso e diplomacia. “Eu diria que 95% dos casos são resolvidos a partir de conversas mediadas pelo síndico.”

Quando essa ferramenta não é eficaz, os passos seguintes são a advertência formal (carta com notificação) e, na sequência, a aplicação de multa.

A leitura das regras do condomínio de tempos em tempos é fundamental para que todos tenham certeza dos limites e das regras pré-definidas. Por isso, é importante deixar o regulamento à disposição dos moradores – seja na portaria, seja em um portal do condomínio.

Para Graiche, a pandemia trouxe muitos aprendizados sobre a vida em comunidade e a tendência é a melhora dos relacionamentos daqui para frente. Na opinião dele, as pessoas aprenderam a dialogar e se uniram para rever e otimizar a utilização de espaços comuns e promover benfeitorias.

“Síndicos e zeladores foram fundamentais neste período conversando e aparando as arestas. O aumento do tempo de vivência dos moradores no condomínio naturalmente ampliou a probabilidade de os conflitos acontecerem. As reclamações triplicaram no auge do confinamento, mas não houve aumento de advertências e multas, porque estavam todos na mesma situação e houve muita empatia.”

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Registro das reclamações

Para organizar seu trabalho, o síndico profissional Marcelo Alves, que atualmente é responsável pela administração de cerca de 1.500 unidades, instituiu que os condôminos precisam formalizar suas reclamações nas respectivas plataformas para que tudo fique registrado e as ações sejam resolvidas em ordem cronológica. “Eu acompanho em tempo real e consigo acompanhar, intervir e dar retorno às cobranças e reclamações. A plataforma registra o histórico de cada caso, com data, fotos e demais evidências necessárias.”

Com relação à mediação, sua estratégia é unir as partes envolvidas, deixar que falem um pouco e intervir filtrando informações relevantes, tirando a emoção das discussões e trazendo os envolvidos para o foco principal, que é a busca de soluções. “O importante é não deixar o clima pesar, porque, afinal de contas, eles moram no mesmo condomínio e precisam conviver em harmonia mínima.”

Alves destaca a necessidade de o síndico agir com diplomacia e também saber filtrar situações em que não deve se envolver. “Quando fica claro que descontentamento não afeta em nada o funcionamento do condomínio, quando é o detalhe do detalhe, quando uma das partes está querendo motivo para brigar, aí não dou respaldo nem me envolvo”.

Comunicação e diplomacia são realmente habilidades necessárias para que o síndico consiga exercer seu papel com sucesso. Quer conhecer outras atribuições da função? Clique no banner e baixe gratuitamente o infográfico "Checklist do síndico antenado".